A treta entre Lobão e Caetano começou no ano 2000, quando Caetano Veloso lançou a Música “Rock n’ Raul” no álbum “Noites do Norte”, que além de crucificar o lendário “toca Raul” Seixas, chutando cachorro morto, dava uma espetada em Lobão (que já criticava Caetano em algumas entrevistas da época).
Pois é, bastou essa leve cutucada (“E o Lobo Bolo”) pro Lobão se enfurecer e lançar a Música “Para Mano Caetano”, no album “Lobão 2001: Uma Odisséia no Universo Paralelo”, disco ao vivo gravado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro lançado em versão CD e DVD.
Lobão responde Rock’n Raul ponto por ponto crivando citações do próprio Caetano e da Bossa Nova, como quem usa a palavra do interlocutor contra ele. Chega ao requinte de mandar saudações de Lupicínio Rodrigues, autor gaúcho de sambas dor-de cotovelo, em resposta à referência de Caetano ao rock do Rio Grande do Sul. Com uma pegada ainda mais roqueira, numa escalada de peso de guitarra que acompanha o acirramento dos ânimos, reclama do trocadilho lobo bolo considerando-o depreciativo, e reage acusando Caetano de leniência com a figura retrógada de Antônio Carlos Magalhães, ex-governador baiano, no que seria uma contradição no seu discurso – acusação que Caetano rechaçou prontamente.
Mas o fundamental no torpedo de Lobão não são tanto as picuinhas com Caetano, mas talvez o que ele retoma e desenvolve de Raul Seixas. Se este atacara a tal inteligentsiabaiana e Caetano já se diferenciara dela em parte em Rock’n Raul, Lobão traça a separação com mais precisão, nomeando um monte de zé Âmané que sob minha égide(de Caetano, cujo discurso Lobão assume ironicamente) se transformam em gênios sem quê nem porquê. O que significa, aí sim, acusar Caetano de leniência com esta turma.
E, se Raul traçara o paralelo entre Elvis e Genival Lacerda, Lobão não faz por menos, e coloca Raul e Jackson do Pandeiro lado a lado. E tem o seu próprio lance genial ao afirmar que a tropicália será sempre o nosso Sargent Pepper pós-baiano, pegando o bastão do próprio Caetano de Saudosismo e colocando dialeticamente a Bossa Nova (Bosta Nova do Raul) como coisa de americano, em oposição ao rock brasileiro! E no lugar do chega de saudade suave de Vinícius ou gritado de Gal Costa, Lobão grita chega de verdade, viva alguns enganos, preparando o terreno para a autocitação chave na pOláªmica: o rock errou.
A resposta de Lobão é quase um tratado, cheia de arestas e sutilezas. Termina com uma declaração de amor em formato bossanovístico (Lobão mais tarde em entrevista especificou tratar-se uma relação de ódio/amor, como se já não estivesse claro). Era de se esperar a réplica de Caetano, com “Lobão tem Razãoâ€.
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