Giro Musical

SAMBISTA MORTO A TIROS

Definitivamente o ano de 1969 foi um ano que entrou para a história do Brasil e do mundo, era um ano no qual a guerra fria ainda imperava e que […]

Publicado por Redação em 11/07/2015 às 12:52

Carnaval001a.jpgDefinitivamente o ano de 1969 foi um ano que entrou para a história do Brasil e do mundo, era um ano no qual a guerra fria ainda imperava e que um dos seus principais símbolos estava no auge, a guerra do Vietnã; a sociedade norte-americana ainda vivia um intenso período de conflitos raciais enquanto assistia ao crescimento de um forte movimento de contracultura, os hippies, que encontrou seu momento máximo ao final dos anos 60 nos EUA e começou a se espalhar pelo mundo ao longo dos anos 70.

Enquanto isso o Brasil que vivia entre a Jovem Guarda e o Tropicalismo entrava em seu mais sombrio capítulo da história que ficou conhecido como “os anos de chumbo”, o período mais repressivo da ditadura militar que teve início com o AI-5 em dezembro de 1968.

E foi nesse período conturbado que aconteceram vários eventos que acabaram entrando para história e que de alguma forma se repercutem até os dias de hoje. Perceber isso não é difícil, basta ligarmos o rádio, acessarmos uma página na internet ou vermos a TV que nos damos conta de que alguma coisa está comemorando 40 anos, são 40 anos do homem na lua, 40 anos de Woodstock, etc.

Também naquele ano de 1969 aconteceu um fato que ficou marcado para sempre na história do samba paulistano brasileiro.

Não sei se todos se lembram de uma reportagem a respeito de um suposto bandido negro que foi executado nas imediações de Guarulhos, cidade próxima a São Paulo. Quem não se lembra e nunca ouviu falar, conhecerá agora a história de Pato N’água, cujo nome tornou-se legendário e lendário, e seu triste final.

Pato N’água era um exímio jogador de capoeira, além de um esmerado sambista que dançava samba na aba do chapéu. Um mestre de bateria impecável, mestre do apito como ele mesmo gostava de ser chamado.

Era o diretor de bateria da Escola de Samba Vai-Vai, escola que ajudou a fundar no Bexiga. Também era chefe da torcida uniformizada do Corinthians.

Certo dia, o mestre resolveu visitar as cabrochas, suas cabrochas no extremo da zona leste. Para isso, contratou um taxista para ficar à sua disposição o dia todo. O taxista, desconfiado, talvez por ser Pato N’água negro, ligou para a pOlá­cia. O mestre de bateria durante seu trajeto visitava uma comadre, para tomar um cafezinho, visitava outra também, e, assim sucessivamente, ia matando a saudade das cabrochas.

No dia seguinte Pato N’Água foi encontrado boiando em uma lagoa em Suzano. Não foi de susto porque ele era corajoso. Não foi afogado porque nadava como um pato n’água. O que se sabe é que foi crivado de balas! O que aconteceu ninguém sabe.

A notícia chegou ao Bexiga e à comunidade do bamba, às 18h, fazendo estrago como uma bomba, justamente na hora da Ave Maria. O povo do samba chorou, e no meio deste povo estava o Geraldão da Barra Funda, conhecido também como Geraldo Filme que, com os olhos inundados de lágrimas compôs o triste samba “Silêncio no Bexiga”, sucesso na voz de ilustres intérpretes como Beth Carvalho. “Silêncio o sambista está dormindo/ Ele foi mas foi sorrindo/ A notícia chegou quando anoiteceu / Escolas eu peço o silêncio de um minuto / O Bexiga está de luto / O apito de Pato N’Água emudeceu…”

Última atualização em 29 de janeiro de 2020

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